Parafernalhas é tudo que você imagina, desde as coisas mais antigas até as novidades. Então, sou música, notícias, moda, viagens, emoções, pensamentos, cinema...... e até aquela receita básica.

2 de novembro de 2011

Amigos


Amigos - Vinicius de Moraes
Tenho amigos que não sabem o 
quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes 
devoto e a absoluta
necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais 
nobre do que o amor,
eis que permite que o objeto dela 
se divida em outros afetos,
enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, 
que não admite a rivalidade.
E eu poderia suportar, 
embora não sem dor, 
que tivessem morrido todos os 
meus amores, mas enlouqueceria 
se morressem todos os meus amigos!

Até mesmo aqueles que não percebem 
o quanto são meus amigos e o quanto 
minha vida depende de suas existências ....
A alguns deles não procuro, basta-me 
saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir 
em frente pela vida.

Mas, porque não os procuro com 
assiduidade, não posso lhes dizer o 
quanto gosto deles. 
Eles não iriam acreditar.
Muitos deles estão ouvindo esta crônica 
e não sabem que estão incluídos na 
sagrada relação de meus amigos.

Mas é delicioso que eu saiba e sinta 
que os adoro, embora não declare e 
não os procure.
E às vezes, quando os procuro, 
noto que eles não tem
noção de como me são necessários, 
de como são indispensáveis 
ao meu equilíbrio vital, 
porque eles fazem parte 
do mundo que eu, tremulamente,
construí e se tornaram alicerces do 
meu encanto pela vida.

Se um deles morrer, 
eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, 
eu rezo pela vida deles.
E me envergonho, 
porque essa minha prece é, 
em síntese, dirigida ao meu bem estar. 
Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos 
sobre alguns deles.

Quando viajo e fico diante de 
lugares maravilhosos cai-me alguma 
lágrima por não estarem junto de mim, 
compartilhando daquele prazer ...
Se alguma coisa me consome 
e me envelhece é que a
roda furiosa da vida não me permite 
ter sempre ao meu lado, morando
comigo, andando comigo, 
falando comigo, vivendo comigo, 
todos os meus amigos, e, 
principalmente os que só desconfiam 
ou talvez nunca vão saber 
que são meus amigos!

A gente não faz amigos, reconhece-os.